quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Capitu não presta (eu já sabia, Bial)


Existe certo tipo de pessoa que me classifica como uma crítica compulsiva que não se permite gostar das coisas. Daí você comenta que Lara, de A Favorita, é um saco e a criatura diz que você não se permite gostar das coisas. Mesmo que você esteja comentando sobre um personagem de novela, a besta vai lá e te taxa não apenas de crítica como também de elitista. Ainda esta semana eu estava tentando tomar uma cerveja com um amigo em um bar que tem uma estátua grega soltando aguinha pra você mijar no banheiro, tipo como as mães fazem quando a gente tem 3 anos, e o sujeito que o meu amigo levou com ele passou algo em torno de 40 minutos dizendo que eu tinha uma grade em torno de mim que não me permitia sei lá o que. Ah, lembrei, não me permitia gostar de Gentileza, aquela mendigo para quem Marisa Monte fez uma das músicas mais bobas da estória das músicas bobas.

Eu tentei explicar a ele que eu não quero matar Gentileza – que aliás, já está morto, que Geová o tenha –, eu só não compraria um livro caro cheio de fotos coloridas dos muros que ele pintou (sim, esse livro existe e estava na mão do amigo do meu amigo). Porque Gentileza é só um mendigo legal e a gente dá cigarros a mendigos legais, a gente não compra o livro de R$ 80 reais deles.

Definitivamente não sou elitista nos meus gostos estéticos. Pelo contrário, era melhor se fosse um pouco mais criteriosa. Eu gosto de O Fantasma da Ópera (inclusive da versão de 2004) gosto de Abba, de Maysa... Se isso não demonstra desprendimento intelectual, eu não sei o que demonstraria.

Insisto que não sou elitista e que só coloco as tais grades quando preciso me separar de gente que fica me receitando texto tosco de Kafka em mesa de bar para que confiem na opinião que darei agora:

Capitu, nova minissérie da Globo, é uma desgraça.

Sim, uma completa tragédia. Capitu é pretensiosa, aborrecida, teatral e tem uma direção de arte que confunde vanguarda e clima gótico com lápis de olho. O roteiro tenta ser moderno e culto, mas é apenas confuso. Não serve para quem não leu Dom Casmurro e não acrescenta nada a quem leu.

Queria saber quando a Globo vai fazer algo como Os Maias, de 2001. A minissérie tinha inúmeros defeitos, sendo Maria Adelaide Amaral o principal deles, mas tinha qualidades o suficiente para dar traço de audiência. Era esteticamente bonita, embora essa beleza se devesse mais aos cenários portugueses que a qualquer primor da direção de arte, o texto fazia sentido (ok, isso devia ser obviedade, mas Capitu ta aí pra contestar) e o resultado era agradável. Você podia assistir Os Maias para se divertir. Capitu só deve ser assistida ou por quem tinha curiosidade e sanou nos primeiros dois minutos ou por quem quer adquirir cultura e acredita que a série forneça isso. Quando eu era adolescente, a MTV colocava uma tarja meio besta na TV por meia hora dizendo "Desligue a TV e vá ler um livro". Pela primeira vez, acho que essa tarja seria de grande utilidade. Na hora de Capitu, desligue a TV e vá ler Dom Casmurro.

3 comentários:

Severino disse...

Por favor responda a pegunta, gentil senhorita: O que é arte? (ops...), ou melhor: Quando é arte?
Quem sabe ajuda na reflexão...

Severino Marcos

Severino disse...

Como também sou provocador, lhe direi uma coisa: Suas críticas têm um cheiro de mofo pseudo-platônicos. É duro mesmo para você ver uma narrativa que obrigue o sujeito a reinventar a obra, que não tenha um sentido lógico tão tranqüilizador às mentes preguiçosas. Eu sei que é duro tirar o espectador da condição de sujeito passivo para se tornar sujeito também "re-construtor", ativo, mas faça um esforço, não dói.
Sujiro ver um filme do Bressane, por exemplo, pode ser "Filme de amor" e faça parte da obra que vê.

Juliana Borges disse...

Eu acho que o Severino disse uma coisa bem interessante que eu repito "É duro mesmo para você ver uma narrativa que obrigue o sujeito a reinventar a obra, que não tenha um sentido lógico tão tranqüilizador às mentes preguiçosas. Eu sei que é duro tirar o espectador da condição de sujeito passivo para se tornar sujeito também "re-construtor", ativo, mas faça um esforço, não dói". Acho o Luis Fernando de Carvalho sensacional! A nova estética que ele impôs ao telespectador era intrigante, atormentadora. Sim, atormentava o espectador a entender e se embrenhar no autor Machado de Assis.
Sobre o texto, criticá-lo, por si só, demonstra que nem você leu "Dom Casmurro", pq o narrador da minissérie apenas repetia partes do livro. É como se você estivesse criticando o próprio Machadão (que heresia!) por um texto confuso e inócuo....é isso mesmo? Pois aquela narração do Casmurro foi o que teve de melhor na série: ler Machado ao telespectador.
Não tecerei um texto como o coordenador do Cuca-RJ o fez, não acho necessário. Mas, já que vc propôs desligar a TV e ir ler Machado, sugiro que tbem o faça para não criticar um texto que nada mais é que a própria obra machadiana.

Aguardando com muito entusiasmo o resultado da mostra de literatura esse ano da Bienal...

PS: Jeová é com "J" e não "G"...uma das possibilidades para o nome do deus hebreu, assim como "Javé", por exemplo.