Meu nome é Juliana Cunha, eu sou coordenadora de literatura da 6ª Bienal da UNE e esse é meu primeiro texto aqui pro blog. Eu resolvi começar com uma apresentação minha e do tema da mostra convidada, que é a influencia de Machado de Assis na formação da literatura nacional e na formação dos escritores brasileiros.
Machado é praticamente uma influência universal entre os escritores brasileiros. Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Paulo Francis e até o autor de novelas Manoel Carlos foram influenciados por Machado. Eu não sei se vocês já repararam, mas as tais Helenas das novelas de Manoel Carlos são todas baseadas na Helena de Machado (e em Helena de Tróia, em certa medida). Desde 1981 as protagonistas das novelas dele têm esse nome. Apesar de ser o grande escritor nacional, sua obra não tem a expressividade que merece no exterior, onde os leitores preferem Paulo Coelho e Jorge Amado e os acadêmicos preferem Clarice Lispector.
Quando começamos a discutir o tema da mostra convidada (aliás, nome estranho, considerando que não pretendo trazer nenhum médium pra psicografar Machado. Até planejo uma oficina via MSN, mas o viés é outro) surgiram as obviedades. O primeiro autor cogitado foi José de Alencar, um dos pioneiros na tentativa de se construir uma unidade nacional através da literatura, mas que acabou esbarrando em uma transposição do imaginário europeu para o meio da Amazônia. Alguns personagens de Alencar de fato parecem cavaleiros medievais com penachos na cabeça. Depois surgiu a possibilidade de trabalharmos "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro. Mais óbvio que isso ia ser difícil, o livro traz brasileiro no título! No entanto, acho que deveríamos fugir um pouco do óbvio e o fato de o autor ser baiano me incomodava um pouco. Apesar de a Bienal acontecer em Salvador, é bom ter sempre em vista que se trata de um evento nacional. A Bahia já estará presente em quase todas as mesas e oficinas, vamos deixar a mostra para um carioca!
Além de ser o melhor escritor brasileiro em minha opinião e na de um monte de gente, Machado é fundador da Academia Brasileira de Letras (ok, eu sei que hoje Marco Maciel, José Sarney e Paulo Coelho repousam seus traseiros sujos naquelas cadeiras, mas Machado era um escritor de prosa, nem Rimbaud exigiria o dom da vidência em um escritor de prosa!) e um artista que, por força das circunstâncias, foi obrigado a se formar exclusivamente no Brasil. Longe de mim fazer um discurso purista, contra influências ou mesmo valorizar Machado apenas por ele ter sido pobre (adianto da parte em que falarei sobre mim: tudo que eu não sou é pauperófila). A questão é: Machado conseguiu partir de um contexto extremamente local para falar de avareza, traição, interesses e todos os demais conflitos universais.
Ele era filho de um negro alforriado e uma portuguesa e morava de favor na casa da viúva de um senador. Não recebeu educação formal, embora vendesse doces em uma escola e espiasse as aulas sempre que podia.
Enfim, Machado é fodão. Basta ler a primeira página de Dom Casmurro pra entender isso. Expressões como "estudar a geologia dos Campos Santos" são mais engraçadas do que qualquer gíria contemporânea (ok, talvez "beijomeliga" chegue aos pés) e ele foi o único escritor brasileiro que Harold Bloom incluiu em "O Cânone Ocidental".
Agora, sobre mim. Eu tenho 20 anos, sou de Salvador, filha de funcionários públicos, estudo (estudar é um termo muito forte, eu tenho um registro de matrícula) Letras na Universidade Federal da Bahia e pratico exercício ilegal da profissão de jornalista desde 2003 (primeiro, no Jornal A Tarde, depois no Grupo Metrópole). Meu escritor favorito é Salinger. Ou Nabocov. Nesse exato momento é Nabocov porque estive relendo Lolita e me re-apaixonei por aquele trecho em que o Humbert Humbert diz: "porque esse tipo de gente acha tanto e se barbeia tão pouco?". Então, é isso: achem na mesma medida em que se barbeiem e vamos nos dar super bem.
2 comentários:
"o livro traz brasileiro no título!"
conserta, ju.
eu costumo plagiar machadão; com muito gosto.
checa:
http://canasebatatadoce.blogspot.com
Também, quem quiser falar qualquer coisa sobre machado, fica a vontade.
tchau.
Bom texto, Juliana. Agora um preciosismo bobo: não seria Nabokov? (ou Nabo-couve?) Terrível o trocadilho, hein.
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